terça-feira, 28 de agosto de 2012

O previsível PSG de Ancelotti


As expectativas em torno do novo Paris Saint-Germain, principalmente após o anúncio das contratações de Thiago Silva e Zlatan Ibrahimovic, causaram alvoroço na pré-temporada. Afinal, na teoria, atrair craques desse quilate tornou o time imbatível em território francês. É, na teoria, caro leitor. Pois na prática, pelo menos até o momento, os comandados do italiano Carlo Ancelotti ainda estão longe de convencer.

Em três jogos pela Ligue 1, dois deles em pleno Parc des Princes, o PSG soma três empates. Uma equipe previsível, carente de dinâmica e refém de estratégias táticas bem montadas pelos adversários. A antítese do que era esperado antes de a temporada começar, embora seja cedo para toda e qualquer projeção que se possa fazer vislumbrando a Liga dos Campeões, por exemplo – é nítida a falta de entrosamento dos novos reforços.

Frente ao Lorient, na primeira rodada, Ancelotti fez jus aos seus conceitos táticos, escalando a equipe no tradicional 4-3-2-1. Na ausência de Thiago Silva, o jovem Sakho fez companhia ao brasileiro Alex no miolo de zaga, com Chantôme, Verratti e Bodmer compondo a trinca de volantes. Mais à frente, Ménez e Lavezzi teriam a missão de assessorar Ibrahimovic, referência no comando de ataque. Não deu certo.

Bem armado pelo ótimo treinador Christian Gourcuff – pai do meia Yoann, do Lyon e seleção francesa – , o Lorient postou-se no 4-4-1-1, limitando espaços e apostando nos contra-ataques puxados por Monnet-Paquet e Traoré, sempre pela esquerda, às costas do medíocre lateral direito Jallet. Com o atacante Aliadière, ex-Arsenal, num dia inspirado, foi assim que os visitantes chegaram aos 2 a 0 antes do intervalo.

O diagrama abaixo mostra o duelo tático dos primeiros 45 minutos. Repare, na segunda figura, como Ibrahimovic recua para buscar o jogo entre as duas linhas do Lorient:


Em desvantagem no marcador, logo no início da etapa complementar, Ancelotti trocou Bodmer e Verratti por Nenê e Matuidi, respectivamente. No 4-2-3-1, com o meia brasileiro centralizado na armação das jogadas, o Paris Saint-Germain foi para o abafa e conseguiu o empate graças a Ibrahimovic. Convém dizer, no entanto, que o Lorient perdeu o zagueiro Ecuele Manga (principal jogador do time), lesionado, ainda na etapa inicial.

Com o recuo de Romao para a defesa e a entrada de Coutadeur, os visitantes perderam pegada no meio-campo e recuaram em demasia:


Contra o Ajaccio, fora de casa, no jogo seguinte, Carlo Ancelotti manteve o 4-3-2-1, mas mudou peças e estratégia. Com o jovem Verratti barrado, Pastore teria a missão de iniciar a armação das jogadas, deslocado pela esquerda na trinca de meio-campistas, ao lado de Chantôme e Matuidi. Lesionado, Ibra deu lugar a Nenê, escalado como “falso nove” junto a Ménez e Lavezzi, que atuaram mais abertos, num 4-3-3 com a bola:


As “pardalices” de Ancelotti não deram certo, e tanto Pastore como Nenê acabaram sacrificados. No 4-2-3-1 (4-4-1-1 sem a bola) tradicional de Alex Dupont, o Ajaccio fez uma partida correta e contou com a expulsão do constrangedor Lavezzi no início do segundo tempo. Eduardo ainda acertou a trave de Sirigu, numa jornada bastante infeliz dos parisienses, que, com um homem a menos, garantiram o empate postados num 4-3-1-1.

Repare, nas figuras abaixo, como Ménez e Lavezzi centralizam sem a bola (4-3-2-1) e buscam o flanco a partir da armação de Pastore: 


Por fim, no empate do último domingo diante do Bordeaux, mais uma vez o Paris Saint-Germain teve imensas dificuldades a partir da ótima estratégia defensiva montada pelo adversário. Ancelotti promoveu as entradas de Thiago Motta e do garoto Rabiot, de apenas 17 anos, no meio-campo, alterando novamente a trinca de volantes. Pastore avançou e fez companhia a Nenê, com Ibrahimovic de volta ao onze inicial.

Armado por Francis Gillot no 5-3-1-1, com vocação nítida para o encaixe de marcação no 4-3-2-1 do PSG, os visitantes deram uma aula de estratégia e posicionamento. Os laterais Mariano e Marange ficaram presos junto aos três zagueiros, com N’Guemo, Obraniak e Saivet compondo um triângulo de base alta no meio-campo. Mais à frente, Jussiê buscava municiar Diabaté e, sem a bola, vigiava Matuidi. Tudo milimetricamente calculado:


No segundo tempo, como ocorrera na estreia contra o Lorient, Ancelotti lançou mão do 4-2-3-1, com Ménez no lugar de Rabiot, pela esquerda, Nenê buscando o flanco direito e Pastore centralizado.  Dessa vez, porém, o abafa não deu certo e, afobado, o PSG abusou dos erros. Plasil, Sertic e Maurice-Belay deram novo gás ao meio-campo de Gillot, e o empate sem gols ratificou o acerto na estratégia do Bordeaux:


Nas próximas rodadas, Carlo Ancelotti ganhará o reforço de Thiago Silva, que deve fazer companhia a Alex no miolo de zaga. Os maiores problemas, no entanto, não estão na defesa, e vão desde a limitação de Jallet até a previsibilidade do meio-campo, passando pelo mau momento técnico de nomes como Pastore e Ménez. O time não encaixa, não cria, não consegue envolver os oponentes. E o treinador italiano parece sem convicção.

Caso o 4-3-2-1 seja mantido, o jovem Verratti é a melhor pedida na meia-cancha, com seu passe vertical e inteligência. Diante da irregularidade de Pastore, o jovem meio-campista também pode atuar como armador num 4-3-1-2, esquema que aproveitaria Lavezzi (ou Nenê) e Ibrahimovic como companheiros de ataque. Outra opção é o 4-2-3-1, formação que subutiliza o sueco, mas pode potencializar Nenê e Ménez, por exemplo. 

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Após três anos afastado do jornalismo em virtude de alguns compromissos pessoais e profissionais, volto à ativa com um espaço para falar de duas paixões que nutro desde a infância: tática e futebol francês. Farei isso por prazer, evidenciando, ao longo das análises, o que penso sobre futebol sob o ponto de vista conceitual. Pretensões? Deixo nas mãos de Deus. Seja bem-vindo, caro leitor! Concorde, discorde, debata. Esse espaço também é seu.